terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Conhecendo um pouco a dança búlgara


A Bulgária é um país com um folclore muito rico e lindo, no qual destaco, sobretudo, sua dança. Tive oportunidade de ver a dança do norte  e do sul do país em duas oportunidades: uma, na cidade de Shumen, localizada no norte (durante as festividades do seu aniversário, em julho de 2003) e outra em Sofia, a capital do país, onde - de brincadeira -  até ensaiei uns passos, sem sucesso: não levo o menor jeito para dança.

Descobri, nestes passeios, que a roupa folclórica do pessoal do norte do país tem o preto como cor predominante e a do sul, o branco. As músicas lindas, me emocionaram demais, já que possuo forte ligação com este país e este povo que adoro. Principalmente, sou muito ligada ao norte da Bulgária. Adoro suas cidades, que serão matéria de futuro post, principalmente a antiga capital do segundo reinado búlgaro - Preslav.

Voltando às danças, alegres, festivas,  elas não se parecem com as danças russas, embora, por ser a Bulgária um país eslavo, assim como a Rússia, as danças terão algo em comum, mas não ao ponto de guardarem estreita semelhança. Não posso dizer qual a mais bela: gosto demais das duas; deixo o julgamento para você, leitor amigo.
Espero que goste.

O grupo abaixo, com toda certeza, é do Norte do país. Se eu estiver errada, minha amiga búlgara, que com certeza verá o post, vai me corrigir. Mas até prova contrário, é do Norte. A indumentária típica não dá chance ao engano.




A dança do vídeo a seguir parece ser de algum grupo típico do sul. Saias brancas, aventais belíssimos.
Esta dança, em especial, me encantou demais. A agilidade dos dançarinos é incrível, seus movimentos magníficos.  

 

Finalmente, o mais impressionante: a dança sobre brasas. Tive a chance de assistir a este espetáculo em Sofia. Coisa única,inimitável, de tempos remotos. Trata-se da "Nestirnarstvo", um verdadeiro ritual sobre o fogo. Disse ritual por ser dançada no dia de  São Constantino e Santa Helena, santos da igreja ortodoxa. Na ocasião é feita a incensação dos ícones e dos "nestinaris", que são uma espécie de condutores do ritual.O ponto culminante é a dança sobre as brasas, acompanhada por tambores. Ninguém sai ferido. Saem do círculo de brasas caminhando normalmente. Eu não sei explicar o que acontece, de fato. Na minha opinião, talvez, uma auto-hipnose ou transe. Fica o ponto de interrogação, abafado pela admiração enorme. Estes búlgaros são fantásticos!



 A seguir, algumas fotos que fiz por lá:
Fotos dos 125 anos de Shumen


 Acima, eu e meu marido entre duas das dançarinas


 - Foto do ritual do fogo em Sofia:



Fontes:
-www.youtube.com
-Fotos do meu arquivo pessoal



domingo, 3 de fevereiro de 2013

Magia e Mistério do Mosteiro Kum-Bum, no Tibete

Hoje, o destino turístico de nosso blog é o distante Tibete, com suas magias e encantos pouco divulgado por aqui.  Mais especificamente, o Mosteiro Kum-Bum.

 Os mosteiros são os baluartes do budismo tibetano, que distribuem o poder espiritual através de suas funções como centros universitários, religiosos, artísticos e administrativos. O centro intelectual e político do Tibete fica no Mosteiro de Potala, em sua capital Lhasa.Situado no topo de Marpo Ri, ou Montanha Vermelha, ele já foi a residência oficial do Dalai Lama. Hoje, com a inaceitável ocupação chinesa, ele é um museu, apenas. O líder espiritual e político do país já não habita mais no Tibete.


Mas este post não se atém a Potala, mosteiro mais famoso do país, mas a Kum-Bum, suntuosa edificaçãoEm forma de multi-camadas de "estupas(1)", contendo  múltiplos salões e altares internos, em cada uma de suas camadas. Ao todo, são três os "Kum-bum", sendo que o mais célebre deles se localiza no território do Monastério Pelkor Chode, em Gyangze. Este Kum-Bum de nove camadas foi construído em 1440. Ele contém, em seu interior, 108 aposentos, no interior dos quais se encontram monumentos budistas e mais de 10.000 pinturas nas murais, com um exemplo a seguir:

 Este, que é considerado o maior Kum-Bum no Tibete, possui  uma centena de capelas únicas em beleza e exoticidade. Possui, ainda, um forte - Dzong.Trata-se de uma relíquia cultural.

 Dzong

Vista do complexo de Pelkor Chode


 Pegando carona em viagens de quem já esteve por lá, fica -aqui, um video mostrando um pouco mais do  complexo de Pelkor Chode e Kum-bum:



Termino a rota deixando você com os monges deste  Kum-Bum:


Sobre este Kum-Bum achei pouco material.Encontrei, no livro de Alexandra David-Meel, uma descrição bem interessante de um outro Kum-Bum, situado em Amdo.


 Transcrevo, a seguir, um pequeno trecho do livro sobre a rotina diária do mosteiro de Amdo, que -pelo que se depreende a leitura do citado livro -se aplica, mais ou menos, a todos os mosteiros do país: uma rápida pincelada nos ritos e hábitos, hierarquias. Muito interessante aos que têm curiosidades maiores sobre o Tibete. .


"Uns poucos rapazes, de pé sobre o terraço da sala da congregação, recitaram rapidamente a forma litúrgica e simultaneamente levaram os búzios aos lábios. Revezavam-se para tomar respiração, enquanto o companheiro continuava a soprar, sendo substituído pelo seguinte, produzindo, assim, um bramido contínuo, cujas ondas sonoras elevavam-se e desciam, em sucessivos altos e baixos, espraiando-se por todo o mosteiro ainda adormecido.
Acima do peristilo da sala, os jovens noviços, envoltos na toga clerical desenhavam a sua silhueta  contra o brilhante céu estrelado, lembrando um conjunto de seres sobrenaturais que tivesse descido para acordar os mortos de seu sono.(...) O chamado musical correu longe. Luzes começaram a mover-se através das janelas das principescas "garbas"(2) e ruídos elevavam-se das tashas(3) disseminadas em volta.Abriram-se as portas  e o clamor de pés apressados se fez ouvir em todas as ruas e avenidas d cidade mosteiro: os monges dirigiam-se a reunião matinal.
Ao chegarem ao recinto do salão o céu já se tornava pálido, amanhecia.  Os sapatos de feltro eram retirados e deixados fora do recinto, empilhados aqui e ali. Em seguida, os monges apressavam-se em tomar seus lugares.
Nos grandes mosteiros, o número de monges reunidos eleva-se a vários milhares. O estranho e repulsivo mau odor que se elevava da assembleia oferecia grande contraste com a suntuosidade das vestes de brocado dourado usadas pelos dignatários e do manto e bastão de comando enfeitados com jóias do "tsongs chen shalngo"- o governante eleito do gompa (4).
Pendentes  do alto do teto, das galerias e altos pilares, pinturas em rolos exibiam um número sem conta de budas e deidades, enquanto uma haste de outros heróis, santos, deuses e demônios, podiam ser vagamente distinguidos nos afrescos que decoravam as paredes do escuro edifício.
Ao fundo do salão, por trás de fileiras de lâmpadas à manteiga, as imagens douradas dos antigos Lamas e os reilicários de prata maciça e ouro contendo suas cinzas ou corpos mumificados, brilhavam suavemente.Uma atmosfera mística envolvia homens e coisas, encobria os detalhes vulgares e tornava irreais atitudes e rostos. Seja o que for que se venha a saber a respeito das falhas de muitos dos monges ali reunidos, tal fato não impede que a visão da assembleia por si mesma cause grande impressão.
Agora, todos estão sentados de pernas cruzadas e imóveis: os Lamas e oficiantes  em seus tronos cujas alturas variam de acordo com suas posições, e os monges comuns em longos e baixos bancos, quase ao nível do chão.
Cantos são entoados em tom profundo e ritmo vagaroso. De quando em vez, a salmodia é acompanhada por sinos, lamurientos "gyalings" (5), trovejantes "rangdong"(6), pequenos e grandes tambores onde a cadência é marcada.
Os pequenos noviços, sentados nas extremidades dos bancos perto da porta, quase não ousam respirar: sabe que o observador "chöstimpa"- como se mil olhos tivesse - logo descobrirá qualquer tagarelice ou gestos inconsequentes e poderá usar o que lhes inspira terrível medo: o bastão e o chicote sempre postos a mão, perto da sua alta cadeira. Entretanto, as punições não são apenas reservadas aos meninos, mesmo os membros adultos da ordem podem recebê-las, em boa dose, de quando em vez. Tive oportunidade de testemunhar singulares castigos dessa espécie, sendo um deles no mosteiro da seita Sakya, durante um solene festival.(...)
(...) O longo serviço religioso sofre uma interrupção muito apreciada: o chá é servido, quente, fumegante, temperado com manteiga e sal, de acordo com o gosto tibetano. Está contido em grandes baldes de madeira e o monge que os serve caminha ao longo das fileiras.  

 
 Todos os "trapas" retiram de sob os mantos as suas tigelas (vide foto acima), que trazem sempre consigo, em contato com a pele, e as apresentam para serem enchidas. As tigelas obedecem a modelos especiais que variam de acordo com as seitas. Durante as reuniões, nenhuma tigela de porcelana ou ornamentada é permitida, e mesmo os mais altos dignatários devem usar uma simples tigela de madeira. Mesmo esta simples regra, lembrança simbólica da renúncia e pobreza adotadas pelos primeiros discípulos do budismo é burlada pelos astutos monges.  As tigelas dos mais  ricos entre eles sem dúvida alguma é de madeira, porém, alguns destes utensílios, feitos de excrescências que crescem nos troncos de algumas árvores produtoras de madeira de lei, atingem altos preços e podem custar até o equivalente a seis libras em moeda local.
Nos ricos gompas,  onde o chá é generosamente temperado com manteiga, os monges trazem para a congregação pequenos vasos, para onde repassam certa quantidade da manteiga que fica na superfície do líquido. A manteiga assim recolhida é usada em suas casas, ou vendida para ser colocada novamente no chá ou para ser usada como combustível nas lâmpadas. Entretanto, não será usada nas lâmpadas dos altares, onde manteiga nova é sempre requerida.
Os trapas trazem,  também, um pouco de "tsampa" (7) das suas próprias casas e esta farinha, adicionada ao chá servido gratuitamente, constitui o seu desjejum.
Em certos dias há distribuição de tsampa e um pedaço de manteiga para acompanhar o chá, ou este é substituído por uma sopa, ou a refeição pode incluir ambos, chá e sopa.
Os habitantes dos famosos mosteiros dispõem de grande quantidade  desses gêneros para o seu desjejum, oferecidos por peregrinos ricos ou por abastados Grandes Lamas a eles pertencentes.
Em tais ocasiões, montes de tsampa e enormes pilhas de estômagos de carneiro contendo pedaços de manteiga enchem a cozinha de um gompa até transbordar. O espetáculo é ainda mais impressionante se a questão é preparar sopa, porque então o número de carcaças de carneiro requerido para o pantagruélico caldo atinge a algumas centenas.
Durante o tempo que vivi em Kum-Bum e em outros mosteiros, embora pela minha condição de mulher não me fosse permitido tomar parte nos banquetes monásticos, um prato da delícia especial do dia era-me servido sempre que o desejasse. Desta maneira, fiquei conhecendo um prato mongol feito de carneiro, arroz, tâmaras chinesas, manteiga, queijo, coalhada, açucar-cande e vários outros ingredientes e especiarias, todos cozidos juntos. (...)
Algumas vezes, durante uma refeição, tinha lugar uma distribuição de dinheiro. Os mongóis grandemente excediam os tibetanos na sua liberalidade para com o clero. Presenciei quando alguns deles deixaram mais de dez mil dólares chineses no mosteiro de Kum-Bum, durante a visita que fizeram. Assim, pois, dia após dia, quer nas manhãs geladas ou no morno alvorecer dos dias de verão, o peculiar rito matinal dos lamaístas é executado em inumeráveis "gompas" por todos os imensos territórios (8) dos quais o Tibete é apenas uma pequena parte.
Todas as manhãs, rapazes ainda sonolentos, juntamente com seus maiores, banham-se nessa curiosa atmosfera que é um misto de misticismo, preocupações gastronômicas e a expectativa de um donativo. Este início de dia em um gompa nos dá uma ideia do caráter de toda a vida monástica lamaísta onde encontramos, sempre   presente, a mesma curiosa associação de elementos: sutil filosofia, comercialismo, elevada espiritualidade e a ávida busca de prazeres grosseiros. E todas estas heterogêneas qualidades estão tão intimamente entrelaçadas que é vão o esforço de separá-las completamente.
Encerro o post avisando o leitor que me baseei, no texto, inteiramente nos relatos da autora francesa citada pela confiança que seu histórico me passa. Ex aluna da Sorbone, Paris. Estudou Sânscrito e tibetano.Viajou durante 14 anos por todo o Tibete, sendo reconhecidamente a primeira mulher europeia a ser consagrada lama. No decorrer de suas viagens e estudos escreveu mais de 40 livros sobre o Budismo,

Deixo agora você com um pouco do som dos monges tibetanos, extraído do Rutube:


 E mais: Leitura gutural harmônica


OM Mani Padme Hum

Notas da Milu

(1) tipo de monumento ou parte de um templo, construído em forma de torre, geralmente cônica, circundada por uma abóbada e, por vezes, com um ou vários chanttras (toldos de lona). Originalmente, era um monumento funerário de pedra, semiesférico,com cúpula, mirante e balaustrada. Com o advento do budismo, evoluiu para uma representação arquitetônica do cosmo.
(2) Mansões do Grande Lama 
(3) Casas dos monges comuns
(4) Mosteiro 
(5) Instrumento musical da espécie do oboé:


 (6) Espécie de trombeta tibetana
 
(7) Farinha de cevada, torrada. Alimentação básica de todo tibetano.
(8) Toda a Mongólia, partes da Sibéria, da Manchúria e mesmo da Rússia européia:especificamente no Cáucaso (Kalmykia) e na Sibéria (Buryatia e Tuva



Fontes de Consulta:
http://tibettravel.org/
www.yandex.ru
www.youtube.com
www.wikipedia.ru
Libro Tibete, Magia e Mistério (Alexandra David-Neel), ed.Hemus 
http://www.toit-du-monde.com/
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