sábado, 30 de abril de 2011

O primeiro homem - Romance inacabado de Albert camus

O primeiro Homem - trata-se de um romance no melhor estilo autobiográfico do genial Albert Camus. Sua leitura, a princípio, me pareceu, de início, uma coisa estranha, uma espécie de rascunho, cheio de anotações deixadas pelo autor, tipo "lembretes" para a revisão final, que nunca chegou a ser feita: Camus faleceu, num acidente de carro, antes de concluir este livro e nós nunca saberemos se ele o concluiria ou se o deixaria de lado, como já fez com "A morte feliz".Apesar de inconcluso, é um livro que se lê de um só fôlego, de tanto que prende nossa atenção.Foi com enorme interesse que percorri a vida de Jacques Cornery(o próprio Camus), desde sua infância,  em um bairro pobre de Argel, órfão de pai, criado por uma família severa e ignorante:  sua mãe analfabeta e alheia ao mundo, em decorrência de um processo de surdez; sua avó severa, exigente, pouco afetiva;seu tio, um toneleiro, também deficiente auditivo, que conversava por mímicas, e que levava o menino às suas pescarias, ao seu trabalho, enfim, que lhe proporcionou agradáveis lembranças da infância., Um professor  desempenhou papel crucial na vida de Jacques, ocupando, em determinada época, o lugar do pai. 
Todo o livro  é a busca  da memória deste pai, morto em idade inferior à do personagem central,bem como a busca de "uma civilização, cujo frágil equilíbrio estava sendo quebrado quando Camus morreu, em plena guerra de independência da Argélia".

Interessante notar a capacidade do menino de se "auto-formar", se "auto-educar", a partir dos exemplos da mãe e avó, de honestidade e trabalho.
Determinados temas e personagens que surgem no livro nos reportam à outras obras do autor, tudo nos levando a refletir sobre a condição humana, formada pelo absurdo, desespero e indiferença.
O primeiro homem é, em suma, a gênese do autor e de sua ética da revolta. É o sol da Argélia lhe ensinando que a "história não é tudo", servindo, como diz o prefácio do livro, de "contraveneno para os rancores despertados por sua própria história".

Apesar de autobiográfico, Camus deixa clara a impossibilidade da memória de recompor todos os fatos:
"A memória dos pobres já é por natureza menos alimentada que a dos ricos, tem menos pontos de referência no espaço,considerando que eles raramente saem do lugar onde vivem, e tem também menos pontos de referência no tempo de uma vida uniforme e sem cor. Só os ricos podem reencontrar o tempo perdido. Para os pobres, o tempo marca apenas os vagos vestígios do caminho da morte".

Um comentário:

  1. É de tal clareza a postagem que até conseguimos ver o homem, em sua jornada. Acredito que o livro deva ser bastante interessante. Não o li, mas algumas frases de Camus são bastante significativas, como : "Não quero ser um gênio... Já tenho problemas suficientes ao tentar ser um homem."

    Sei que vou voltar aqui muitas vezes, Milu. Livros são sonhos de outros que acabam alimentando os nossos.

    Albert Camus

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