Cá estou eu a falar das minhas origens. Minha família materna é toda de Anfeh, mas é óbvio que este post não se deve a tal motivo e sim ao fato de Anfeh ser uma cidade cheia de atrações turísticas e fatos históricos. Isto é o que mais justifica o espaço dado a ela neste blog.
Nunca estive lá, mas cresci ouvindo as recordações de meus avós a respeito da cidade. Contavam tantos detalhes que, para mim, é como se fosse eu que de lá saí no final do século XIX. Agora, vendo as fotos encontradas no Google, tudo me é tão familiar, que chego a ficar emocionada.
É à moda de Anfeh que faço meu quibe cru, meu charuto de repolho, de uva, o graibe que minha família tanto gosta. Vendo suas praias, me vêm logo à cabeça meus avós nelas nadando, como eles tanto gostavam...
Anfeh é uma cidadezinha de apenas 5.600 habitantes; antigo porto fenício, se situa na costa norte libanesa, pertencendo ao distrito de Koura(1),a 71 km ao sul da capital do país, Beirut. Foi construída ao redor de várias cidades em ruínas que formam um sitio arqueológico fantástico e que remontam ao período pré-fenício.A característica mais marcante do local é ser a única cidade, em toda a costa oriental do Mediterrâneo, que se edificou sobre seu entorno rochoso. Seu nome vem do antigo Egito. Os restos dos assentamentos históricos incluem cavernas, habitações, lugares de culto religioso, cisternas, tanques e prensas de vinho e caminhos abertos na rocha. Um antigo fosso, conhecido como Fosso Grande, foi utilizado pelos fenícios como um dique seco e se crê que serviu para defesa durante o período das Cruzadas.
A cidade possui várias igrejas da antiguidade; a mais antiga delas contém restos de afrescos bizantinos e se chama "Saydet El Reeh", ou Nossa Senhora do Vento; outra delas foi construída pelos cruzados, na época da invasão da cidade por eles, no século XII. Também foi encontrada uma grande quantidade de vasilhas de uma gama variada de estilos e de origens, feitas em barro.As descobertas arqueológicas continuam a ser feitas na atualidade e evidenciam que Anfeh foi uma fábrica destes artigos, os quais comercializava.
Vive da pesca, das vinhas formadas por uvas enormes, segundo as lembranças de meus avós, e de plantações de oliva, mas o elemento básico de sua economia, seu verdadeiro "ouro branco"- é a produção de sal do mar, seu recurso natural inesgotável, extraído sem colocar o meio ambiente em risco.
Anfeh é mencionada como Ampi em documentos do século VII a.C; anteriormente havia sido mencionada como "Tell al-Amarina", no século 14 antes de Cristo e depois Nephin, durante o perídos dos cruzados. Também foi mencionada nas gravuras assírias durante o reino do Rei Asr-Hadoun (681-669 antes de Cristo).
Durante a era grega-romana, Anfeh foi mencionada com o nome de "Trieres".No Império Bizantino, "Trieres" foi mencionada de forma mais ampla. Foi um centro patriarcal, e o seu pároco participou do Conselho de Chalcedon(3) em 451 AC. Foi destruída por um tremor de terra em meados do sexto século (551 AC).
Nephin é espetacular: fica a direita do fosso talhado numa enorme rocha, com uma ponte movediça, ao fundo. A ponte se apóia em um fosso de cem metros de comprimento. Este complexo foi um feito e tanto, em se tratando da engenharia medieval. Possui doze torres e fica isolado em um promontório por uma estreita vala, uma verdadeira "língua" de terra. Hoje do castelo só existem as ruínas, já que foi destruído em 1289, quando os cruzados foram expulsos. Muitos fatos históricos interessantes estão ligados ao castelo, mas o volume de informações seria tanto, que fugiria ao espaço de um post.
Nos séculos 12 e 13 a cidade tinha excelente reputação pela qualidade de seus vinhos,muito apreciados no Oriente.
Para quem visitar Anfeh, uma dica: fique de olho nas pinturas rupestres de mamutes, que permanecem praticamente intactas. Isto faz com que os arqueólogos concluam que as origens da cidade se perdem na Antiguidade.
Outra visita obrigatória são as três igrejas à beira-mar: a já citada "Nossa Senhora do Vento", pequena estrutura em ruínas, com restos de pinturas murais do período das Cruzadas. Nela pode-se ver as figuras de São Jorge (o Santo patrono do Líbano) e de São Demétrio; a figura majestosa de Cristo, de dois evangelistas e uma figura da Virgem Maria a acalmar o mar revolto.
Outra das igrejas é a de Santa Catarina, datada do mesmo período e parcialmente restaurada, ainda servindo à comunidade Ortodoxa, religião predominante no local.
Bem perto da Igreja de Santa Catarina está uma igreja do século século 17/18 - São Simão e São Michel.
Outra antiga igreja é Youhanna Mar,ou Monastério de São João, que é rodeado por alguns cortes de rocha curiosa.
Ao longo do comprimento da baía de Anfeh pântanos salgados dão uma nota bastante pitoresca à paisagem local, com moinhos de vento que bombeiam a água do mar melhor do que os motores barulhentos e poluentes movidos a diesel.
Desde a época dos fenícios, nas margens rochosas de Anfeh existem estas salinas. Os grandes comerciantes da época abriram pequenas lagoas nas rochas junto ao mar e levavam a água marítima para estas cavidades em grandes jarras de cerâmica. Depois o sal era recolhido e transportado. Com o tempo, a extração do sal se transformou numa das atividades econômicas mais importantes do local. As salinas sobreviveram até nossos dias, e por todo o Líbano você encontra o sal de Anfeh, que representa a metade da produção do país, apesar de seus métodos antigos, diferentes das outras salinas libanesas, que empregam métodos mais modernos.
Durante o domínio otomano, a extração de sal foi proibida (???) e as salinas foram destruídas, tornando-se improdutivas pela primeira vez em sua longa história. Não ocorreram mudanças durante o mandato francês, que manteve as leis otomanas até 1943. A extração somente voltou a ser legal após a independência do Líbano, com novas salinas sendo criadas ao longa da costa da cidade.
Elas ocupavam 500.000 metros quadrados da costa rochosa, área pertencente ao monastério ortodóxoDeir al-Natour Sayedet, construído no ano de 1.115.
Desde a independência do Líbano, em 1943, Anfeh tem desempenhado um papel significante em diferentes aspectos sociais, acadêmicos e econômicos do país.
Praça Al-Bader, abaixo, é onde a maior parte de pessoas em Anfeh se encontram nas tardes de verão. O moinho de vento, um símbolo importante em Anfeh, e a fonte de água no meio da praça atraem muitos visitantes das vizinhanças.
Como nestas tardes muitos jovens vão até Al-Bader para encontrar seus namorados, as pessoas mais velhas do local a apelidaram de "Praça dos Amantes" ("Multaqa Al-3ushaq").
O nome da praça é gravado em uma grande pedra com uma base parecida a um barco.
Uma foto tirada, provavelmente, nos tempos que meus avós lá viviam:
Finalizo com a Igreja de São Jorge, que era a Igreja freqüentada por minha família toda. Meu bisavô é quem guardava a chave desta igreja no século XIX, daí seu significado especial para mim.
Uma foto tirada, provavelmente, nos tempos que meus avós lá viviam:
Finalizo com a Igreja de São Jorge, que era a Igreja freqüentada por minha família toda. Meu bisavô é quem guardava a chave desta igreja no século XIX, daí seu significado especial para mim.
GIORGIO @ LAS SALINAS ANFEH LEBANON 2007 por GCHcorp
Abaixo, o Hino do Líbano (extraído do site da Embaixada libanesa no Brasil)
Clique aqui para ouvir o hino (formato MP3)
Notas da Milu
(1)Distrito que possui 52 cidades, a saber:
1. Aaba 2. Afsdik 3. Ain Akrine 4. Ali-al-Mouran
5. Amioun 6. Enfeh 7. Badebhoun 8. Barghoun
9. Barsa 10. Bdebba 11. Batroumine 12. Bishmizzine
13. Bhabouch 14. Bishriyata 15. Bkomra 16. Bneyel
18. Btourram 19. Btouratige 20. Bkeftine 21. Bnehran
22. Bsarma 23. Btaaboura 24. Bziza 25. Charlita
26. Chira 27. Dahr-al-Ain 28. Darbechtar 29. Darchmezzine
30. Deddeh 31. Fih 32. Ijdeebrine 33. Kaftoun
34. Kifraya 35. Kelbata 36. Kelhat 37. Kfaraakka
38. Kfarhata 39. Kfarhazir 40. Kaferkahel 41. Kfarsaroun
42. Kousba 43. Maziriit Toula 44. Mitrit 45. Mijdel
46. Nakhleh 47. Rachedbine 48. Ras Maska 49. Ras Osta
50. Wata Fares 51. Zakroun 52. Zakzouk
(2)Capital da atual província do Líbano do Norte. Não confundir com a capital da Líbia. Anfeh fica ao sul de Trípoli, a 16km.
(3) Foi o quarto Concílio Ecuménico da Igreja cristã
fontes:(3) Foi o quarto Concílio Ecuménico da Igreja cristã
http://www.yannarthusbertrand.org/
http://meipi.org/
http://www.anfeh.com/http://meipi.org/
http://www.dailymotion.com/
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