segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

De Verdade (Sándor Márai)

Para muitos críticos, esta é a obra máxima do húngaro Sándor Márai, que levou cerca de 40 anos para escreve-lo. O livro apresenta os conflitos do amor e do casamento, o que pode ser percebido pelo pequeno trecho contido na contracapa da edição brasileira:
"Um dia despertei, sentei na cama e sorri. Nada mais doía. E de súbito compreendi que não existe mulher de verdade. Nem na terra nem no céu. Não existe em lugar algum, aquela. Existem apenas pessoas, e em todas há um grão da verdadeira, e nenhuma delas tem o que do outro nós esperamos e desejamos."
 É a frustração decorrente da idealização. O ideal só existe na mente de quem idealiza.Tudo é narrado com uma elegância de linguagem admirável, que transmite ao leitor as dores do narrador ou dos narradores, já que eles são quatro. 
Você agora diz que sou um homem magoado.Alguém me feriu. Talvez essa mulher, a minha segunda esposa. Ou a primeira. Alguma coisa não deu certo.Fiquei só. Passei por um grande abalo emocional. Sinto ódio. Não acredito nas mulheres, no amor, na humanidade.
 E, em meios a conflitos interiores, entre 'mea culpa' e sentimentos de revolta misturados a desilusão, existe o a burguesia decadente da Europa Central no interregno das duas guerras mundiais, na capital de seu país - a Hungria - cujas feridas são tão profundas como as desilusões amorosas. Cercada pelas tropas comunistas.Márai consegue, com maestria, revelar a fronteira intransponível que separa as classes sociais.
 "Na escala inferior somos capazes de nos alegrar com muitas coisas que suavizam a severidade implacável da vida. Entretanto, a sensação feliz, calorosa, de viver eu não encontrei nem naqueles que pela profissão, ou por vocação, vivem num sentimento de comunhão com a "grande comunidade"...encontrei homens magoados, tristes, insatisfeitos, maldosos, intensamente combativos, resignados, débeis mentais e trabalhadores habilidosos e inteligentes. Pessoas que acreditavam que muito devagar, a custa de acontecimentos imprevisíveis, o destino dos homens melhoraria um pouco. É bom saber disto. Mas o saber não reduz a solidão da vida".
Da orelha do livro, vai a seguir, sua sinopse:
"Numa confeitaria de Budapeste, Ilonka conta a uma amiga a história de seu casamento desfeito, relembra a inutilidade do esforço para decifrar a intimidade e para conquistar a alma do ex-marido, encantado, em segredo, desde a juventude, por uma simples criada. Depois, na atmosfera carregada de um café, Péter, o ex-marido de Ilonka, narra a um amigo a sua própria versão sobre a separação, evoca a dor da perda de um filho e reconhece o preço pago pela paixão inconfessável por Judit, a empregada que servia a rica mansão de seus pais. Mais de trinta anos depois, na cama de um quarto de hotel em Roma, Judit fala ao novo namorado, um músico da noite, sobre a infância miserável, sobre os dissabores vividos na casa dos patrões e sobre a união fracassada com Péter, condenada de início pelo abismo existente entre seu ressentimento indissolúvel e as amarras impostas a seu parceiro, pobre por herança e filiação. Descrevem ainda, a convivência singular com Lázar, o escritor, velho amigo de Péter, entre os escombros da capital húngara bombardeada. No relato de Judit descobrimos a solidão, o desapego material, o desprezo pelas convenções, a paixão pelas palavras, o compromisso com a literatura, traços essenciais do escritor de verdade.
Finalmente, em Nova Yourk, o baterista de cabaré, último confidente de Judit, obrigado a  emigrar para deixar de ser um delator a serviço da polícia secreta da Hungria anexada ao bloco soviético, faz uma crítica áspera da ditadura da sociedade de consumo que, em meio ao culto das aparências  e à avidez desmedida pelo dinheiro, corrompe o sonho americano".

Um pouco sobre o autor:
Sándor Márai nasceu em 11/04/1900, na cidade de Kassa, atual Kósice, na Eslováquia, então pertencente ao Império Austro-Húngaro.

 

Faleceu nos EUA em 1989. Além de escritor, era jornalista e dramaturgo. É considerado um dos maiores escritores  de língua húngara. Seu primeiro romance foi lançado quando Márai tinha, apenas, 24 anos, tendo alcançado enorme sucesso em seu país. Apesar disto, sua obra do regime comunista, era praticamente desconhecida no Ocidente.Romancista, poeta e cronista, é considerado um defensor dos valores morais e civis.Produziu a maior parte de sua obra entre os anos de 1928 e 1948.


Além deste livro, de sua obra foram editados no Brasil, todos pela Companhia das Letras:
* As Brasas (também pela Companhia das Letras)
* O Legado de Eszter
*O Veredicto em Canudos  (1)
* Divórcio em Buda
* Rebeldes
* Confissões de um Burguês

E ainda:
** As velas ardem até o fim (Ed.Dom Quixote)
** A mulher certa (Ed.Dom Quixote)
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Notas da Milu
(1) Romance cuja ação se passa no sertão da Bahia. Escrito em1960, depois de ler “Os Sertões” de Euclides da Cunha, A paisagem cheia de sol, a vegetação a secura e a miséria da caatinga. Sándor Márai retrata tudo isto com grande intimidade e verdade. Apenas alguém que tenha passado por lá saberia descrever tão bem as agruras do sertão da Bahia.

Um comentário:

  1. Oi Milu.
    Que sugestão formidável.
    Gde abraço, em divina amizade.
    Sonia Guzzi

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